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O mundo é um moinho (proteja seus sonhos)

Então mais uma vez é fim de ano. Mais 365 presentes foram desembrulhados por cada um de nós e aproveitados da melhor maneira. Sim, apesar de tudo, cheguei à conclusão que oferecemos ao mundo sempre aquilo que temos de melhor, agimos sempre com o melhor de nós, querendo acertar, mesmo que depois cheguemos à conclusão de que algumas de nossas escolhas foram equivocadas. E esses finais e recomeços são propícios para avaliarmos se o que fizemos está de acordo com quem somos e queremos ser, para ver o que vamos levar pela vida e o que vamos deixar no caminho. Sim, o título é uma alusão à música do Cartola "preste atenção o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos". Me peguei pensando nessas palavras porque nesse fim de ano notei o quanto fui abandonando boa parte dos meus sonhos - que nem eram mesquinhos. Sobretudo ao rever coisas que escrevi e lembrando de planos que fiz há 5 ou 10 anos. Foi triste, ver que fui deixando me deixando vergar sob o peso desse moi

A desconhecida

Há uma luz que se define ambiguamente em teu olhar. Em meu voyeurismo exasperado, escondo-me atrás das colunas que sustentam minha fortaleza e vejo-te passar nos arredores onde há um bosque virgem, de beleza que não se espelha em minh’alma, e que é fonte das suas descobertas pueris. Às vezes, abandono a segurança dos meus altos muros e vou ao bosque sozinho colher frutos, tocar as árvores, escalar para ver os filhotes nos ninhos. Nada me comove tanto, nada faz brilhar meus olhos como os seus, nas suas explorações. Pensei se você não é apenas um meu delírio esquizofrênico, alguém que só eu posso ver, parte de mim que se desgarrou por falta de espaço para se desenvolver. Um fantasma, uma fada, um anjo... quem é você? Está sempre só, sempre feliz, sempre exibindo um fulgor incondicional, quase lua, quase primavera, quase flor e quase estrela... Como consegue? Eu que sou guerra, sou pedra, gelo e espada; que corro, olhar fixo nos objetivos, desviado de qualquer coi

Se cada gota de chuva...

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Se cada gota de chuva que cai desce até o solo e nele se infiltra, alimentando raízes e chega ainda mais profundo em lençóis freáticos e, em cada poço, mata mais sede, Se cada sede que vai leva mais gente a beber águas de fontes, poços, rios, suco, cerveja, Se cada cerveja que sai do freezer ao balcão, às mesas, ao chão, Se em cada chão se cai de bêbado, de sede, de fome e depois se levanta para um novo porre, outro poço, nova ceia, Se ainda ceia houver para o faminto, Se ainda água houver para o sedento, Se ainda fome houver, para a ceia, Se ainda sede houver - mais chuva Bendita seja!

Um dia comum

Era um dia comum e Paulo voltava para casa depois de mais uma jornada de trabalho. Quarta-feira, 18h30min, início da noite. Nada mais comum que a volta para casa numa quarta-feira sem grandes acontecimentos. Paulo procurava na memória algum fato marcante, uma imagem, um diálogo, qualquer coisa que pudesse fazer daquela quarta-feira comum um dia diferente. Nem bom, nem ruim; diferente já bastava. Sabia que quando chegasse em casa, sua esposa estaria lhe esperando com um belo sorriso e com aqueles seus braços acolhedores. Sabia também que entre a sua chegada e a hora de dormir, ela lhe contaria as histórias do seu dia e lhe perguntaria o que aconteceu no dele. E ela sempre tinha histórias para contar; algum novo conhecido, alguma discussão, alguma coisa que viu na rua. Já ele muitas vezes se saia da obrigação de ter algo interessante para contar dizendo que teve um dia comum, nada de novo. No fundo, gostava da idéia de ter alguém para quem contar o seu dia. No fundo. Mas Paulo não er

É tão fácil de amar...

É tão fácil te amar que eu me recuso mesmo sem motivo óbvio, infame ou escuso. Se quero amar o belo de beleza te compuseram: tua tez clara e límpida, teus olhos castanho-claro tua boca, linda boca linda face que não me canso de contemplar a ponto de te provocar a tua timidez quando me dizes, assim, envergonhada: - Que foi? Foi que não posso passar a vida sem que ao acordar eu possa pousar-te nas maçãs os lábios e te dizer “bom dia”, ou antes do sono, “boa noite”; boa vida é a minha por estares aqui e eu poder contemplar-te a cândida face, dia e noite, e saber que ela estará ainda amanhã e depois e sempre, até que sabe-se lá qual infortúnio nos separe - a morte, quero crer. Canto assim toda tua beleza pela face, que teu corpo e tuas curvas, guardo-me de cantar em público; basta que saibam que amo tua beleza. Caso cismasse de não amar-te a beleza, como não amar tua fragilidade tão feminina, teu jeito de abandonar-se assim nos meus braços, depois de ter enfrentado o mundo lá de fora com s

Nada a declarar

Cada vez que eu sento aqui para tentar escrever alguma coisa, fico pensando em como posso dizer algo de útil para a humanidade. Sim, para a humanidade! Eu poderia me contentar em escrever bobeiras para meus amigos, ou até textos bonitinhos cheios de frases repetidas sabe-se lá quantas vezes ao longo dos séculos e que hoje se convencionou chamar de auto-ajuda. E me sairia bem nessa área, modéstia à parte. Lembro de na adolescência ser um conselheiro e tanto para os amigos que vinham pedir uma opinião. Mas meus interesses mudaram bastante de lá pra cá e auto-ajuda deixou de figurar entre os mais importantes. Entre esses interesses atuais está a política, mas não dou para e nem tenho vontade de ser comentarista político. Adoro futebol e provavelmente escreveria melhor sobre que muita gente aí da grande mídia - que ganha pra dizer o que todo mundo já sabe - mas também não me interesso por comentários esportivos. Poemas já não escrevo. Ficção, tenho preguiça (confessei! E, sim,

Sono estelar

A solidão inundou os aposentos da sua pequena casa com mais força que teria uma torrente de água vinda de alguma represa que tivesse ido abaixo. Por todos os cantos havia um quê de ausência e ele nem sabia de que. Quem sabe haveria jeito de substituir a ausência por alguma outra coisa; bastava saber que coisa era aquela que tanto faltava. E o que faltava? Ainda há pouco os amigos estavam aí e eles jogavam baralho, conversavam sobre futebol, mulheres, contavam piadas, causos, pareciam tão alegres, tão animados, tão divertidos! Agora todos estavam em suas casas, alguns com suas mulheres e filhos, outros com os pais, mas ele estava ali, com os seus móveis, a televisão e a geladeira ainda com algumas latinhas de cerveja bem gelada. E aquela ausência descabida de sabe-se lá o que. Por mais que já houvesse se acostumado a senti-lo, aquele vazio era atordoante como uma febre surgida do nada, sem dar pistas da sua causa, e essa em especial, era de deixar acamado. Fosse ao hospital, t