TV x Contador de Histórias
No início do conto O Adeus do navegante, de Milton Hatoum, o velho navegante chega de viagem e manda desligarem a televisão para contar um causo. A história que ele conta é sobre um duelo, mas o conto de Hatoum é sobre outro duelo: o do título deste post. Ela se passa num tempo em que a televisão ainda causava fascínio por ser novidade e privilégio de poucos, mas a imagem do homem que chega e manda desligar a televisão para que o ouçam causa maior fascínio ainda, pelo menos em mim.
Ao ler sobre como as famílias se reuniam para ouvir a leitura de um romance ou para alguém contar histórias, sinto uma imensa vontade de ter vivido nessa época. Quando imagino uma cena como a do patriarca no conto de Hatoum sinto que há nela uma atmosfera mágica, as palavras saindo da boca e a imaginação dos ouvintes aguçada tentando visualizar o que está sendo contado.
Lembro que na infância, quando faltava energia elétrica, meu avô Amaral contava algumas de suas histórias: de suas pescarias, suas traquinagens dos tempos de criança, entre outras. Lembro de viajar nessas histórias, de visualizá-lo, por exemplo, deitado na rede à beira do rio e com medo da onça; quase podia escutar os ruídos da selva à noite, o som do rio em correnteza, das folhas das árvores roçando umas nas outras. Muitas pessoas não entendem, mas até hoje conservo o hábito de olhar para um ponto qualquer no horizonte e tentar visualizar a situação quando alguém me conta uma história qualquer; pensam que eu não estou prestando atenção.
Infelizmente o espaço reservado aos contadores de histórias hoje em dia vem (muito) depois da internet e da televisão, tecnologias que geralmente não deixam muito espaço para a imaginação.
Por isso, meus amigos, hoje eu lhes faço uma proposta: sempre que encontrarem um bom contador de histórias, desligue a TV, o computador, o Ipod, etc. e poste-se à frente dele com os ouvidos atentos e a imaginação à mil. Ou melhor ainda: torne-se você mesmo um contador de histórias.
Afinal, todo mundo traz na bagagem boas histórias para contar.
Adorei seu post...
ResponderExcluirMe fez lembrar de quando eu tinha uns 11 anos...
Íamos para a casa de uns parentes no interior da Bahia (lá ainda não havia chegado a tal na energia elétrica), e quando chegava a noite nos reuníamos todos formando uma roda, com candelabros na mão... Os mais velhos contando histórias... Meio assustadoras rs
Mas eu gostava =)
Saudade, Carlos
Beijos :*
Quem não gosta de ouvir histórias? Eu adoro, pelo visto você também. Acho que todo dia ouvimos, vemos ou percebemos muitas histórias, que deixamos passar por falta de atenção.
ResponderExcluirAbraço grande pra você.
Isso sim é muito mais importante do que a fome midiática, meu amigo. Ler, ouvir, mergulhar em histórias. O resto é amor e vida.
ResponderExcluirDizem que não existem mais contadores de histórias por ai.. mas eu contesto essa afirmativa.
ResponderExcluirO que não existe são ouvidos apurados para ouví-las.
Os contadores de história não precisam que a platéia chega à hora marcada, sente num lugar estabelecido.. Eles criam a atmosfera a partir do pouco que lhes oferecemos!
Como uma senhora num ponto de ônibus, um moço na fila do supermercado!!
Os contadores de história estão por ai.. quem tiver ouvidos, que ouça!!