Sono estelar
A solidão inundou os
aposentos da sua pequena casa com mais força que teria uma torrente de água
vinda de alguma represa que tivesse ido abaixo. Por todos os cantos havia um
quê de ausência e ele nem sabia de que. Quem sabe haveria jeito de substituir a
ausência por alguma outra coisa; bastava saber que coisa era aquela que tanto
faltava. E o que faltava?
Ainda há pouco os amigos
estavam aí e eles jogavam baralho, conversavam sobre futebol, mulheres,
contavam piadas, causos, pareciam tão alegres, tão animados, tão divertidos!
Agora todos estavam em suas casas, alguns com suas mulheres e filhos, outros
com os pais, mas ele estava ali, com os seus móveis, a televisão e a geladeira
ainda com algumas latinhas de cerveja bem gelada. E aquela ausência descabida de
sabe-se lá o que.
Por mais que já houvesse
se acostumado a senti-lo, aquele vazio era atordoante como uma febre surgida do
nada, sem dar pistas da sua causa, e essa em especial, era de deixar acamado.
Fosse ao hospital, talvez recebesse um atestado de virose: - Sintomas: solidão
seguida de carência aguda com tendência a falta de perspectivas e ausência de esperanças
ou presença de esperança vaga em níveis insuficientes para dar sabor a uma
vida.
Hoje não tem mais jeito,
pensa - é ligar a TV num programa qualquer e esperar o sono vir, para ver se o
sol do amanhã traria com ele algo como um Sazon pra alma.
Toma a última cerveja, dá
uma olhada pela janela, o céu da madrugada está nublado, apenas uma estrela
brilha ao longe num pequeno vão entre as nuvens, brilha só, fosca, mas ainda
brilha e de repente ele se olha e sente que algo dentro de si brilha e é
seduzido pela estrela, ou é ele que a seduz, não sabe bem, e sente o lado de
dentro se encher, talvez desse brilho – esperança? paz? felicidade? amor? – algo
que preenche apenas, sem dar respostas nem satisfação, apenas sentimento em seu
estado puro e sem julgamentos.
Seus olhos estiveram
vidrados por um tempo que não saberia determinar e agora vertem lágrimas em cada lado da face, sem dor e sem alegria, lágrimas nascidas desse encontro entre olhar e luz, estrela e ser humano, numa gravidade criada e
descriada no momento que se passou.
Os olhos assim lavados,
sente que o dia de hoje já se bastou; deita no sofá e entrega seu sono ao
brilho da estrela que o banha através da janela ainda aberta. Entregue aos
sonhos, nem percebe aquela estrela, depois de cumprido o seu papel, entregar-se
também ao sono estelar, sumindo na imensidão do universo.
Carlos, foi uma boa surpresa ler os textos deste blog, que eu não conhecia.
ResponderExcluirObrigada pela presença no Inscrições.
E um grande abraço pra você.
Na verdade você já conhecia, mas mudei o template, rs. Bom ter você por aqui novamente. Abraço!
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