BEDA #2 - Pimpolho
Com o
tempo a gente aprende muitas coisas e uma das mais importantes que
aprendi é a rir de mim mesmo. A vida é dura, o caminho é árduo e
o mundo hostil na maior parte do tempo, então não precisamos
aumentar carga sobre nossos ombros com excesso de autocrítica e
sentimentos de culpa exagerados. Erros acontecem e temos que aprender
a nos perdoar para não viver pedindo desculpa por existir.
Pessoas,
embora pelo que escrevi até aqui possa parecer que este é um texto
de autoajuda ou uma exibição de minha sabedoria adquirida ao longo
dos meus vinte e poucos anos, não é. Eu só quis fazer essa breve
introdução para mostrar porque não estou constrangido com o que
vou lhes contar agora. OK, talvez haja até uma pontinha de
constrangimento, mas nada que me impeça de rir de mim mesmo e de
lhes oferecer a chance de rir junto comigo.
Sem mais
embromação, confesso: já toquei em banda de pagode. Para alguns
nem é novidade, mas, mesmo pra esses, só agora é que serão
revelados alguns dos detalhes sórdidos dessa experiência. (Pois é,
o que o desespero de achar um tema para o BEDA não faz com a gente)
Foi mais
ou menos assim: eu tinha 15 anos e havia aprendido a tocar violão
pouco mais de 1 ano antes quando recebi o convite inusitado para
tocar na Swing do Samba. Ela já existia há algum tempo e era
formada por um grupo de amigos que eu havia conhecido na igreja. O
violonista anterior, inclusive, era um dos tocadores
da igreja nos quais me espelhava, daqueles que eu ficava observando
pra tentar imitar a batida quando esteva aprendendo. Pois bem; não
me lembro agora a razão pela qual ele teve que deixar a banda, mas
creio que era o conflito de horário entre os ensaios da banda e os
da igreja. O certo foi que abriu a vaga e me chamaram para o lugar.
Nessa
época eu já começava a entrar na fase rock nacional, ouvia muito
Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e Engenheiros do Hawaii,
principalmente. Até estava deixando o cabelo grande pela primeira
vez. Mas conhecia muitos pagodes, muitos mesmo, porque antes disso eu
ouvia rádio todos os dias. Pela manhã, ouvia o programa do Sid
Soares, na 100.7, e à noite era o Pagode do Jura, na Difusora.
Algumas das primeiras músicas que aprendi vieram de uma revista de
cifras com músicas do Raça Negra. Eram essas as minhas credenciais
– além, é claro, de ser amigo da turma e não cobrar cachê.
E assim
começou a minha breve aventura no mundo das festas noturnas. Vou
pular os ensaios, pois eles serviam para pouca coisa além de combinar
como começar e terminar as músicas, bem como definir o repertório. Vamos aos
shows!(?)
Pra não
ficar tão maior, vou me limitar a um deles. Foi o show no festival
junino da Feira do Produtor do bairro de Santo Antônio, não por
coincidência, o mesmo que morávamos. A expectativa era grande; foi
um dos primeiros lugares que tocamos e, geralmente, dava um bom público nesse festival. Nesse dia, se bem me lembro, estreamos o
nosso figurino oficial: uma blusa justinha de camurça brilhante de
cor lilás e calça branca. Lembro de me sentir meio ridículo já na
época, mas hoje me parece bem mais. Porém, como a vontade de tocar
era maior, fui assim mesmo, sem medo de ser feliz. Chegada a nossa
vez, subimos ao palco e animamos a festa, porque a nós podíamos até
não ser bons músicos, mas tínhamos animação de sobra. Fizemos
até o passinho de banda de pagode! Depois de subir no palco vestido
assim e fazer o passinho de banda de pagode, não tem como pagar mais
mico, certo? Errado. O melhor estava por vir.
Toda
banda costuma fazer a apresentação dos seus músicos em um
determinado momento do show, né? A gente não poderia deixar de
fazer a nossa. Geralmente o vocalista fala o nome do músico e este
faz algum solo, alguma exibição do seu talento para merecer os
aplausos dos presentes. Como a não éramos ainda feras nos nossos
instrumentos, tivemos a maravilhosa ideia de fazer a apresentação
descendo até o chão ao som de Pimpolho, do Art Popular. Isso mesmo:
o cantor chamava o nome do meliante e este ia até a frente do palco
rebolar no:
“Eu sou pimpolho, sou o rei da mulherada
beijo
todas sem parar
E
vê se pára de me olhar
Abaixa
logo devagar
Porque
meu fôlego tá acabando
Não
consigo mais falar
Vai
caindo, vai caindo
Agora
pode levantar...”
Pois
é. Eu fiz isso. Julguem-me! Condenem-me! Não, nada disso! No
momento vocês só estão mesmo autorizados a imaginar a cena e rir.
Eu, um adolescente magrelo, mãos no joelho, rebolando até o chão
ao som de Pimpolho. Riam! Eu deixo. Eu mereço.
Mas,
sabe, eu faria de novo. Foi bem divertida e movimentada essa época
da minha vida. Tem histórias pra mais uns 2 dias de BEDA, pelo
menos. Talvez eu conte, se
o desespero por um tema bater de novo
se a minha vergonha for passear novamente por tempo suficiente para
escrever um texto.
Espero
que tenham gostado.
Até
amanhã!
Você falando que riu com o meu texto, mas esse seu é imbatível! haha E, olha, sinceramente... você subiu uns 10 pontos na minha admiração! Porque, vou te falar uma coisa: desconfio um pouco do caráter das pessoas que não passaram por uma fase desse tipo... Vou até pensar em contar em um dia do BEDA umas histórias dessas também, haha
ResponderExcluirConta! Conta! Conta!! Não se reprima hahaha
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