“Aos donos da casa, peço licença para jongar”* - BEDA - 9º dia

Em fevereiro deste ano estive no Rio de Janeiro numa viagem curtinha de apenas 5 dias, mas o suficiente para conhecer o Jongo da Lapa. Mas já estou me adiantando. Deixem-me contar essa minha experiência com o jongo mais detalhadamente, como é meu costume (risos). 

Resolvi fazer a viagem ao Rio assim sem muito planejamento, como a maioria das coisas acontece na minha vida. Tinha férias marcadas para a segunda quinzena de fevereiro e foi só no início do mês que achei passagens relativamente baratas (porque passagem de avião barata de verdade em Manaus é coisa rara) para a época das férias. Só deu tempo de avisar a minha amiga Cláudia Nathália Nega que ia e pedir algumas dicas a ela de passeios e hospedagem. Ela me indicou a Lapa porque fica perto do trabalho dela e assim ficaria mais fácil de nos encontrarmos, e eu aceitei de pronto por já conhecer a fama de lugar da boemia no Rio. Mas quando aceitei, pensava nos bares da Lapa, não imaginava que iria encontrar algo ainda mais interessante.

Cheguei na quarta (25/02) e, muito cansado da viagem, apenas conheci algumas coisas e à noite não tive pique para encarar a boemia. Só na quinta, depois de ter dado uma volta pela cidade, foi que resolvi encarar de verdade a famosa noite da Lapa. Antes mesmo de sair, já ouvi os tambores me chamando. Mas ainda assim demorei a sair, fiquei por ali conversando com o povo do hostel, ouvindo histórias de outros hóspedes e pegando dicas de passeios. Até que resolvi sair para jantar e depois perambular pelos bares até encontrar algo que me agradasse.

Antes de continuar, deixa voltar alguns anos. Explico: a primeira vez que vi uma roda de jongo, não foi na Lapa. Era 2013 e eu estava em Brasília para onde tinha ido fazer um curso pelo trabalho, e a minha amiga Polly foi me buscar onde estava hospedado para ir curtir um Festival de cultura popular que acontece há alguns anos por lá. Nem preciso comentar que adorei, né? Teve palhaços, roda de mamulengo, maracatu, cavalo-marinho (desse a gente até tirou foto pra mandar pra Débora, que uma amicíssima nossa que a Polly chama de lagartixa, mas nossos celulares não ajudaram) e, no meio disso tudo, o Jongo da Serrinha. Eu fiquei maravilhado com tudo, mas de todos, eu nunca tinha ouvido falar na roda de mamulengo e no jongo. Quando o jongo começou, lembro-me de ficar hipnotizado pelo toque dos tambores, mesmo sem entender direito o que o pessoal cantava, mas o que mais me chamou atenção mesmo foi um senhor de cabeça branca que dançava com uma leveza e com uma expressão de alegria e ao mesmo tempo de paz que, nossa, aquilo me deixou realmente encantado e já ali me lembro de ter sentido uma vontade de participar daquilo. Mas ali estavam no palco, né, distante, nem se eu quisesse e tivesse coragem pra conseguir participar.

Pois bem, voltemos a 2015. Já nem me lembrava de jongo, aliás, nem lembrava se tinha aprendido na época o nome, para escrever aqui, tive que pesquisar algumas informações na internet (risos). Mas, como disse mais cedo, ouvi os tambores e já senti vontade de conferir do que se tratava. Fui jantar e fiquei perambulando pelos bares até voltar aos arcos e finalmente ir ver de que se tratava aquele batuque todo que estava ouvindo desde cedo. Ali, embaixo de um dos Arcos da Lapa, estava acontecendo a roda de Jongo da Lapa. E foi por ali mesmo que passei o resto da noite.

A roda de Jongo da Lapa é uma coisa magnética. Nesse vídeo abaixo vocês podem ver um pouco do que estou falando. Quando cheguei, além do pessoal que é do grupo mesmo, havia vários turistas, boa parte argentinos (não me perguntem por que) e alguns deles batiam palma animados, enquanto outros se arriscavam a dançar no meio da roda, já cheios de álcool na cabeça. Logo eu já estava ali batendo palma e repetindo os trechos dos pontos que eu conseguia entender. É muito animado, gente, uma energia muito boa que rola ali!

Basicamente, um casal dança no meio da roda enquanto o restante da roda batuca, canta e bate palmas. Na verdade, só três pessoas batucavam no dia que eu acompanhei. Sempre uma pessoa puxava os cantos, ou melhor, pontos, e o restante da roda repetia. E o casal no meio da roda ia trocando depois de um tempo não muito longo. Para trocar, o homem ou a mulher que queria dançar no meio da roda fazia uma espécie de cumprimento ao seu correspondente que estava lá e assumia seu lugar. Tudo na santa paz. Ao longo da noite, vi vários gringos entrarem na roda e dançarem desengonçados, mas cheios de alegria. Eu bem que quis, mas não tive coragem, mesmo tomando algumas cervejas na barraca da Boa que fica bem ao lado da roda. Mas isso não me impediu de permanecer ali, animado e batendo palmas até 3 da madrugada, quando a roda foi acabar.

Quem sabe da próxima vez eu tenha coragem de participar.

Para quem quiser saber mais sobre o Jongo da Lapa, achei esse documentário logo abaixo no youtube. Ela acontece todas as últimas quintas-feiras do mês nos embaixo de um dos Arcos da Lapa.


Quem quiser saber mais sobre o Jongo da Serrinha, tem esse site muito interessante e com várias informações a respeito. http://jongodaserrinha.org/o-jongo-da-serrinha/

E vamos valorizar a cultura popular do nosso país, meu povo!

Abraço e até amanhã!

*título retirado do documentário sobre o Jongo da Lapa

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