“Há tantos caminhos, tantas portas, mas somente um tem coração”
Seguir um
caminho próprio, um caminho que só eu posso seguir porque só eu sei o que vai
aqui dentro. Se você já leu a citação de Nietcszhe aqui ao lado, sabe quanto o
tema me é caro. Também já postei aqui o texto da Clarice Se eu fosse eu, que acho absolutamente incrível. Vezes sem conta na
vida me peguei pensando no que eu faria se eu fosse eu. E aí eu entro em
contradição, porque também tomei como uma das verdades da vida que somos sempre
o melhor que podemos ser em cada momento. Mas se é assim, posso me perguntar como seria se eu fosse eu?
É sem dúvida
um problema complexo, e se torna ainda mais quando pensamos que o que somos é
também uma colcha de retalhos das pessoas que nos ajudaram a formar a nossa
personalidade. Eu sou aqueles que amo e, em certa medida, aqueles que detesto,
porque esses também me ajudam a delimitar quem eu quero ser quando me mostram
quem não quero ser. Dito de outro modo, eu assumo para minha vida o que vejo de
melhor nas pessoas que amo ou admiro, das coisas que leio, das crenças que adotei
e evito, ou pelo menos procuro evitar, ser aquilo que detesto, desaprovo. E
assim procuro ser o melhor que posso ser.
Por outro
lado, não sou sempre quem eu quero ser e não escolho sempre ser de uma
determinada forma: muito do que somos já vem pré-moldado pela sociedade na qual
nascemos. Desse modo, ser o melhor que posso ser pode significar adotar
o que a sociedade e a cultura na qual estou inserido acha que é o melhor pra
mim – e frequentemente o é. Mesmo que, no fundo, eu queira ser outra coisa
totalmente diversa.
Apesar de
tudo, tô com o Raul e acredito que há uma forma de sermos nós mesmos, seguir
esse caminho único que é só nosso e por onde iremos com todo o nosso coração. É
quando não nos deixamos levar pela onda e procuramos encarar nossas verdades e
nossos demônios interiores para diferenciar aquilo em que acreditamos de fato
das vezes em que apenas aderimos sem convicção a ideias alheias. E aí tomamos a
coragem de seguir aquele caminho que será só nosso, com a nossa marca e o nosso sangue demarcando o percurso.
Em O Vermelho e o Negro, Stendhal diz numa
passagem que “(...)uma das características do caráter é não deixar o pensamento
demorar-se nos sulcos traçados pelo comum”. Seja por onde for, nosso caminho passa por não
demorar-se nos sulcos traçados pelo comum, pois, como diz o Raul em outro trecho
de Pedro, “cada um de nós é um
universo”, com capacidade para achar novas soluções e novas formas de encarar a
vida que poderão inspirar nossos entes próximos e quem sabe até as gerações
futuras.
Ser quem
somos é o nosso maior desafio na vida. E você tem, coragem de encará-lo?
*O título é um trecho da música Pedro, do Raul Seixas
*O título é um trecho da música Pedro, do Raul Seixas
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