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Herança

Andando pelo mundo dos homens, vi a cor escura no seu olhar transbordando um sentimento desconhecido. Sem me apavorar, peguei a lupa da sensibilidade e examinei cada minúscula partícula desse olhar: Não havia febre, Não havia frio, Talvez houvesse dor e até paixão; Mas como medir Se não soube ouvir os ruídos do seu silêncio? Um dia foste embora. De todas as palavras que deixaste, De todas que fui capaz de guardar, Nenhuma me disse mais que aquele silêncio profundo, e aquela escuridão do seu olhar. Neles, o mistério do teu ser; Neles, o tesouro - ou a maldição - que não soube alcançar; Neles, a tua única força capaz de tocar minha alma. Daquilo que vivemos, essa é a minha maior herança.

Pequena oração

Que a vida venha com sua carga de drama, comédia, tragédia ou terror, seja do jeito que for, venha e me inunde e que eu mergulhe sem medo e sem pudor de ser, como se nunca tivesse conhecido outra condição de viver que não a de ser humano e o ser plenamente. “A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano”. (Clarice Lispector)

Lacuna

Há um pedaço de mim que é qualquer coisa de triste e quase inquieto, que reclama qualquer coisa que ainda não vi, ouvi ou vivi, mas deve existir em algum lugar, esperando por minha chegada, ou que talvez não exista e precise da minha força criadora para existir, essa coisa que tanta falta me faz. Por esta lacuna impressa desde tempos imemoriais no âmago de minh'alma ponho-me a escrever de quando em quando, nas horas em que a normalidade rotineira do mundo me cansa, e eu, em angustia demasiada, quase desespero, sinto o coração expandir e transbordar os frágeis limites do peito, e desabar em prantos, palavras, acordes e versos. Escrever é minha redenção.