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Mostrando postagens com o rótulo poemas

Deita no meu peito

Para Bruna. Deita no meu peito, amor Vem me ser calor Deixa-me te ser aconchego Está tudo tão louco lá fora! O que já não fazia muito sentido Agora não faz sentido algum Sinto tudo desmoronar...   Nada faz sentido Só a tua cabeça deitada no meu peito Me traz algum conforto em meio ao caos   Vamos projetar nosso castelo, Nossa fortaleza de papelão Com as cores mais bonitas   Vamos decorar os interiores Com flores e quadros e fotos Com nossos momentos e sonhos E esperar que a beleza nos proteja Desta feiura que se aproxima É tudo tão frágil... Mas o que importa é sentir-se são e seguro Enquanto for possível   Até a próxima tragédia, Estaremos celebrando nossas vidas

Sacrifício

Como um Cristo Trago sobre mim as dores do mundo E me crucifixo no poema

À Belchior

Se as palavras cortam, poeta Meus versos são um pouco mais São caniversos suíços Que trago ao alcance da mão para qualquer ocasião (A velha tentação de rimar pode cegar as lâminas, mas sigamos em frente) Trago sempre comigo Mas raramente lanço mão Pois que sou aprendiz E, no seu manejo, Mais me golpeio e lacero Do que poderia fazer a outrem Das cicatrizes que aqui vês Como esses talhos no peito Muitas são marcas deixadas Pelos meu embates, Minhas tentativas frustradas De golpear com meus caniversos Por isso, poeta Meu canto torto guardo calado Que de tão torto, feito faca É minha carne que corta

Só para os loucos, só para os raros

Só para os loucos, só para os raros... Meus pensamentos não andam tão claros Meus dias passam lentos com o tédio habitual E vou por entre os prédios andando igual A um andarilho sem destino e sem teto Fora dos trilhos e de todo afeto Me entrego ao acaso repousando em qualquer canto Sigo cego de descaso saboreando o meu pranto Rimando apenas por hábito Por costume adquirido Rabiscando papéis pálidos Em momentos de delírio. Só para os loucos, só para os raros Em meu arroubo eu declaro: Só a poesia é que salva Minha vida e minha alma De passar por esse mundo Qual filme vagabundo Sem ser visto, nem notado

O último voo do ministro

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Teori morreu. Alçou seu último vôo Em meio à tempestade E suas asas sucumbiram Sob o peso do temporal Dos céus brasileiros. Por um breve lapso de tempo Ainda se teve a esperança De que ele não se tivesse ido, Que tivesse desistido no último instante E não tivesse embarcado para o fim. Mas a realidade nos deu um soco Na boca do estômago: Sim, Teori morreu! E, talvez com ele, O resto de seriedade Que se poderia esperar Das autoridades desse país; Agora somos nós, Brasileiros, Que seguimos nesse vôo às cegas Em meio às tempestades, Sem saber se nossas asas Serão fortes o bastante Para chegar ao destino almejado Mas pelo povo, Não por esses que tomaram de assalto A cabine do nosso avião Que esses, a gente sabe, Saltam de paraquedas ao menor perigo Tomando o cuidado de levar consigo O que tiver a possibilidade de ser vendido - a preço de banana – Deixando-nos à própria sorte Rumo ao iminente desastre. Teori morreu,

Não me julgue

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Não me julgue Não sou da sua jurisdição Sou eu, meu próprio juiz Quem determina minhas penas - Que são muitas e pesadas Não me condene Porque ninguém Maior competência tem Que eu mesmo Para dosar minhas sentenças Não me julgue Não me condene Ou eu te julgo e condeno Ao exílio do meu coração Até que aprendas a me aceitar como sou

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo"

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Eu vejo o amor assim: Se eu precisar lutar tanto Não tem de ser pra mim

Saio de mim *

Saio de mim e começo a me observar: Olho para todos os detalhes E não sei o que pensar Olho para o passado e Ah! Sim! Lá estou eu O menino amável que a todos conquista Correndo sem camisa no meio da rua Que nada conhecia para além da sua vista Que não fazia esforços para agradar ninguém A quem ninguém queria mal Se aproximar, também, ninguém Mas para ele não tinha importância Na verdade ele nem percebia Cercados de seus bonecos Eram sua única companhia Além dos livros, lápis, borracha... O que não conhecia, imaginava E na imaginação Seus bonecos eram personagens De um jogo de futebol Ou de uma grande aventura Tudo era muito bom e muito bonito A música sempre encontrou vida nele Um dia ele viu os outros Jogando bola de verdade E ele quis jogar bola também Ele começou a ver os outros A observar seu comportamento Não queria mais ser o que era E começou a mudar, e mudar E começou a crescer, e crescer Mas não gostou muito da mudança E começou a querer ag

Dor companheira

É sempre sobre essa dor Quando oferto um sorriso Ou quando engulo o choro Bem lá no fundo Ela me faz companhia De tão presente, mal a percebo E passo os dias sem reclamar Mas há dias em que, me parece Ela se ressente pela indiferença E se esforça para mais dor ser E machuca com mais força E ainda que não queira Sou forçado a reconhecer: Muito bem, aí está você O que faço contigo, Minha única e mais fiel Companheira de todas as horas? Eu te rejeito e faço tudo pra esquecer E tu, mais dor se faz sentir Para que eu não tenha como te ignorar E como não sei chorar E como não sei gritar Eu te engulo, como choro E com a voz que me falta E tento fazer-te canto E expressar em palavras Minha exasperação noturna Para com você, Minha inimiga íntima, Minha amiga indesejada, Cúmplice do meu desespero mudo. Quando engulo um choro Ou quando abro um sorriso - Ó, minha hóspede incômoda! É só uma tentativa desesperada De arrancá-la do meu peito, Seu aposento predilet

O Foguete

vai subindo para o céu vai fugindo à minha vista vai direto para o espaço vai levando a esperança de encontrar novas vidas que tenham inteligência para trocar experiências descobrir um novo mundo em que haja ausência de ódio e violência dessa grande ignorância em que caiu atualmente a nossa existência onde o imperador absoluto é a majestade amor onde à vida e ao povo dão o seu valor onde a fraternidade é a grande prioridade e não importando a idade todos têm felicidade sim, foguete, vai vai em busca desse lugar vai e não esquece de voltar volta e vem buscar o que do homem sobrar se as coisas que ele cria podem fazer este mundo em um segundo acabar vai e não demora a voltar venha nos salvar dos monstros criados por nós mesmos que à noite vêm nos assombrar mas se você quer se salvar não não volte para cá fique por lá e seja feliz por este mundo infeliz só lhe faço um pedido: lembre-se de mim que te vi partir cheio de vontade de contigo ir de

Ternura ácida (2)

Explodem em rasgos setentrionais As vigas cambaleantes dos meus prédios Vou desabar! Vou desabar! Mas não sem antes segurar tua mão E dividir contigo o peso da minha âncora Vamos juntos ao fundo do abismo Vamos juntos ao trágico fim Não vou sozinho Não vou Quero teu sangue, como quero! Derramado junto ao meu Que jorra deste peito ultrajado Por tua ternura lacerante Com um talho profundo me golpeaste E agora quedo agonizante neste vale tenebroso Mas não vou só, Não vou Sugarei teu espírito Comerei a tua carne E te levarei comigo Para o fundo do abismo Como prova de amor Do grande amor que fincaste Como estaca no meu peito Ternura ácida (1)

As horas - BEDA - 6º dia

Há uma hora que é escura como uma estrela que se apaga no meio de uma constelação. Há uma hora que é vazia como o lugar  na mesa  de alguém que já se foi . Nessa hora, os seres inanimados gritam alto o que não queremos escutar. Nessa hora, os sentidos da vida se ofertam às nossas mãos, mas acabam escapando feito água por entre os dedos. E então como que escurece do lado de dentro também, como se houvesse ficado só o lugar e nosso eu tivesse se ido. Hora perigosa na qual podemos nos perder para sempre nesse labirinto chamado vida. Mas esta hora fatídica passa, como passam todas as horas. É da natureza delas se irem e levarem um pouco de nós consigo a cada instante. Até sabe-se lá que abismo nos consuma.

Versos perdidos esvoaçam

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Versos perdidos esvoaçam pelo céu - E o céu é desses de noite límpida e clara com lua cheia e estrelas cadentes! Uma viola, uma gaita; vozes ressoam na noite, em uníssono, entoam uma canção E a canção ecoa, levada pelo vento A canção... não sei de que fala, mas conforta o coração de seus cantores e lhes estampa um sorriso na face e preenche a noite de alegria e, porque não?, de felicidade. Versos perdidos esvoaçam pelo céu e sabem que ali não há necessidade deles, que há bastante poesia na feliz reunião de amigos que cantam na noite estrelada Versos perdidos se vão esvoaçantes, continuam sua jornada à procura de um coração de poeta!

Lar

Caminhávamos em distraído êxtase de paixão. Sem perceber, atravessávamos os séculos contemplando nossos olhares, anos-luz, distâncias intangíveis, buracos negros e o encontro do meu olhar com o teu era o combustível, o caminho e a própria viagem. Lembro-me perfeitamente, embora às vezes duvide das minhas próprias lembranças, do dia em que nosso amor era tão forte, tão apaixonado e as nossas loucuras chegavam a grandes extremos. Enquanto caminhávamos a esmo – e era como se tudo fosse um grande jardim paradisíaco e nós os seus guardiões e principais habitantes – mergulhamos em um vulcão, você me puxando, eu fui sem hesitar, alcançamos o centro da Terra, incólumes por não saber do perigo de ser queimados, ou pela temperatura da nossa paixão estar acima da que fazia por lá. Éramos loucos, apaixonados loucos, redundância, eu sei, mas é para dar a noção mais próxima do que era o nosso amor. Sim, era. Foi. Já não é. Uma pena. Grande pena. *** Agora há pouco li uma lista dos luga

Quisera desfiar o tecido da vida

Quisera desfiar o tecido da vida e de cada pedaço de fio pulsante tirar o sumo, apenas - poesia latente E embriagar-me de tal bebida Como um bêbado bacante Para sair logo em seguida Mais feliz que toda gente Livre e leve na avenida

Se cada gota de chuva...

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Se cada gota de chuva que cai desce até o solo e nele se infiltra, alimentando raízes e chega ainda mais profundo em lençóis freáticos e, em cada poço, mata mais sede, Se cada sede que vai leva mais gente a beber águas de fontes, poços, rios, suco, cerveja, Se cada cerveja que sai do freezer ao balcão, às mesas, ao chão, Se em cada chão se cai de bêbado, de sede, de fome e depois se levanta para um novo porre, outro poço, nova ceia, Se ainda ceia houver para o faminto, Se ainda água houver para o sedento, Se ainda fome houver, para a ceia, Se ainda sede houver - mais chuva Bendita seja!

É tão fácil de amar...

É tão fácil te amar que eu me recuso mesmo sem motivo óbvio, infame ou escuso. Se quero amar o belo de beleza te compuseram: tua tez clara e límpida, teus olhos castanho-claro tua boca, linda boca linda face que não me canso de contemplar a ponto de te provocar a tua timidez quando me dizes, assim, envergonhada: - Que foi? Foi que não posso passar a vida sem que ao acordar eu possa pousar-te nas maçãs os lábios e te dizer “bom dia”, ou antes do sono, “boa noite”; boa vida é a minha por estares aqui e eu poder contemplar-te a cândida face, dia e noite, e saber que ela estará ainda amanhã e depois e sempre, até que sabe-se lá qual infortúnio nos separe - a morte, quero crer. Canto assim toda tua beleza pela face, que teu corpo e tuas curvas, guardo-me de cantar em público; basta que saibam que amo tua beleza. Caso cismasse de não amar-te a beleza, como não amar tua fragilidade tão feminina, teu jeito de abandonar-se assim nos meus braços, depois de ter enfrentado o mundo lá de fora com s

Um poema pousou na minha mão

Um poema pousou na minha mão Como uma pena Dengosa e pequena Guiada pelas mãos ternas De uma brisa suave Rodopiou, o poema Fez firula no ar Velocidade ventou - o poema veio pousar na minha mão Abri sorriso bobo Olhei Olhei Olhei Poema não se moveu Era belo Era leve Acalentava a alma Vê-lo assim, pousado na mão Tão belo que, confesso Quis prendê-lo no papel Para mostrá-lo a vocês Mas o poema, que coisa, Pegou carona na próxima brisa Restou mão vazia Papel em branco (onde fiz esses rabiscos) E a visão do poema sumindo Nas asas do infinito.

Ternura ácida

Deixa-me atravessar a fina camada dos teus calos, Ultrapassar a cor verde de tuas lentes, Para tocar te a pele oculta E alcançar-te a pureza da retina. Depois de ti, nada mais é vago; O mundo todo transparece em substância fluida Quando abres os braços E me envolves em tua ácida ternura. Sobretudo amo as noites em que me lanças, Como estranhamente passa a amar a cela O condenado que nela amargou longos anos. Amo as lágrimas doridas, As chibatadas de solidão sangrando-me peito, O doce suplício que é te amar.

O poema no seio da vida

Um poema está adormecido no seio da terra nos seios da amada no seio da vida Veio o sol veio a chuva veio a lua e seu cortejo de estrelas Veio a neve veio a seca vieram as flores os animais as pessoas Só o poema não veio Permanece No seio da vida À espera do poeta