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Por que escrevo

  Escrevo pela necessidade de me expressar, por vezes para tentar dar sentido ao caos da nossa experiência; em outras, para desengessar o olhar sobre a vida, desorganizando verdades assumidas para lembrar que o caos, às vezes, é só isso mesmo e não precisa fazer sempre sentido: há ocasiões nas quais só se pode sentir. Também me interessa buscar o significado último das palavras para traduzir fielmente os sentimentos e as experiências, o que, sei bem, é utópico. Nessa busca, esbarro sempre na impossibilidade das palavras de explicar tudo; há sempre o indizível sobre o qual tateio tentando construir com as palavras o sentido que busco, para provocar no outro sentimentos próximos do que experimento. Mas minha busca ainda é incipiente, sou mero aprendiz. Falta-me a coragem maior de me entregar radicalmente a essa experiência de perscrutar, como Clarice Lispector, o que existe entre o número um e o número dois, entre duas notas musicais, onde “ existe um sentir que é entre o sentir - nos in

Sentir demais ou de menos

Estou ansioso e já não sei o porquê. Antes, quando pouco sabia e não tinha ciência do tamanho da minha ignorância, apenas achava que essa angústia era por sentir demais, sensibilidade de artista que capta tudo como antena, trazendo para si todas as dores do mundo. Lembro-me de ter escrito muitas coisas na tentativa de exorcizar meus demônios interiores, textos que infelizmente acabei perdendo, mas algumas frases dessa época ainda ecoam na minha mente, entre estas uma que falava exatamente desse excesso de sentimento que me faria morrer um dia do coração. Cheguei a imaginar tão vivamente que tive a sensação nítida das batidas do meu coração se tornando pouco a pouco mais fortes, mais fortes, e mais ainda até chegar ao ponto em que ele não suportou mais e explodiu. - Morreu de que? - O coração explodiu! Morreu de tanto sentir... Seria uma hipótese descabida? Não sei. Mas, de certa forma, me embevecia a possibilidade de uma morte poética, ainda que acompanhada de sofrimento. Oco

Retorno (mais um)

Esses dias estava dando uma olhada nos textos do blog. É algo que faço pelo menos uma vez no ano. Leio porque gosto de verdade de algumas das coisas que escrevi aqui; às vezes, também, por curiosidade para saber como pensava há 5 ou 10 anos atrás. Para ver quanto mudei e quanto ainda ficou daquele tempo.   Percebo um tanto de dor e melancolia nos poemas, embora tenha alguns bem leves. Nas crônicas um pouco mais de otimismo e de sonho, embora tenham algumas de alerta. Não raro me surpreendo com a qualidade de alguns dos textos e penso comigo mesmo: “não lembrava de ter escrito isso; eu posso escrever muito bem quando me permito, hein?”. Não por vaidade boba, nem por nada, só porque aprendi a reconhecer qualidades em mim com o tempo, porque nem sempre fui bom nisso. Quase nunca, na verdade. O ciclo é sempre esse: leio, acho bom, me pergunto por que parei de escrever e faço o propósito de voltar a escrever com frequência. “Pelo menos uma vez por semana”. Como se fosse fácil voltar ass

Deita no meu peito

Para Bruna. Deita no meu peito, amor Vem me ser calor Deixa-me te ser aconchego Está tudo tão louco lá fora! O que já não fazia muito sentido Agora não faz sentido algum Sinto tudo desmoronar...   Nada faz sentido Só a tua cabeça deitada no meu peito Me traz algum conforto em meio ao caos   Vamos projetar nosso castelo, Nossa fortaleza de papelão Com as cores mais bonitas   Vamos decorar os interiores Com flores e quadros e fotos Com nossos momentos e sonhos E esperar que a beleza nos proteja Desta feiura que se aproxima É tudo tão frágil... Mas o que importa é sentir-se são e seguro Enquanto for possível   Até a próxima tragédia, Estaremos celebrando nossas vidas

Vidas possíveis

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Novamente o velho dilema entre fazer o que quero e o que é preciso. Minha mente é naturalmente dispersa e meus interesses, ditados pela minha grande curiosidade a respeito de tudo, mudam com rapidez comparável a possibilidade de clicar em links sugeridos quando se navega pela internet. Mas não é só na internet que meus interesses me fazem ficar horas entre filmes, notícias, humor, esportes, etc. Sempre fui assim, mesmo antes de conhecer esse fabuloso labirinto virtual. Eu sempre fiquei dividido entre várias opções por achar que todas tinham um grau aceitável de validade, mas sem saber a qual dar prioridade. Passando da pura divagação às experiências ou possibilidades reais, eu sempre me mantive meio que num limbo do qual minha vida poderia me levar para qualquer lugar. Eu sentia, por exemplo, que minha vida poderia ser ligada de alguma forma ao futebol, meu esporte preferido e minha paixão desde que me lembro. Pensava que se treinasse bastante, havia boas possibilidades de me

Sacrifício

Como um Cristo Trago sobre mim as dores do mundo E me crucifixo no poema

À Belchior

Se as palavras cortam, poeta Meus versos são um pouco mais São caniversos suíços Que trago ao alcance da mão para qualquer ocasião (A velha tentação de rimar pode cegar as lâminas, mas sigamos em frente) Trago sempre comigo Mas raramente lanço mão Pois que sou aprendiz E, no seu manejo, Mais me golpeio e lacero Do que poderia fazer a outrem Das cicatrizes que aqui vês Como esses talhos no peito Muitas são marcas deixadas Pelos meu embates, Minhas tentativas frustradas De golpear com meus caniversos Por isso, poeta Meu canto torto guardo calado Que de tão torto, feito faca É minha carne que corta

Só para os loucos, só para os raros

Só para os loucos, só para os raros... Meus pensamentos não andam tão claros Meus dias passam lentos com o tédio habitual E vou por entre os prédios andando igual A um andarilho sem destino e sem teto Fora dos trilhos e de todo afeto Me entrego ao acaso repousando em qualquer canto Sigo cego de descaso saboreando o meu pranto Rimando apenas por hábito Por costume adquirido Rabiscando papéis pálidos Em momentos de delírio. Só para os loucos, só para os raros Em meu arroubo eu declaro: Só a poesia é que salva Minha vida e minha alma De passar por esse mundo Qual filme vagabundo Sem ser visto, nem notado

O último voo do ministro

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Teori morreu. Alçou seu último vôo Em meio à tempestade E suas asas sucumbiram Sob o peso do temporal Dos céus brasileiros. Por um breve lapso de tempo Ainda se teve a esperança De que ele não se tivesse ido, Que tivesse desistido no último instante E não tivesse embarcado para o fim. Mas a realidade nos deu um soco Na boca do estômago: Sim, Teori morreu! E, talvez com ele, O resto de seriedade Que se poderia esperar Das autoridades desse país; Agora somos nós, Brasileiros, Que seguimos nesse vôo às cegas Em meio às tempestades, Sem saber se nossas asas Serão fortes o bastante Para chegar ao destino almejado Mas pelo povo, Não por esses que tomaram de assalto A cabine do nosso avião Que esses, a gente sabe, Saltam de paraquedas ao menor perigo Tomando o cuidado de levar consigo O que tiver a possibilidade de ser vendido - a preço de banana – Deixando-nos à própria sorte Rumo ao iminente desastre. Teori morreu,

Não me julgue

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Não me julgue Não sou da sua jurisdição Sou eu, meu próprio juiz Quem determina minhas penas - Que são muitas e pesadas Não me condene Porque ninguém Maior competência tem Que eu mesmo Para dosar minhas sentenças Não me julgue Não me condene Ou eu te julgo e condeno Ao exílio do meu coração Até que aprendas a me aceitar como sou

A arte do encontro

O eterno poetinha Vinícius de Moraes dizia que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida e eu concordo plenamente. Uma primeira implicação de se ver a vida assim é que, sendo uma arte, ela exige de nós muita criatividade, um toque muito pessoal, um jeito só nosso de promover tal encontro. Mesmo partindo do princípio de que somos seres sociais e é a sociedade na qual estamos inseridos que vai determinar boa parte dos nossos comportamentos no trato com o outro, sabemos se apenas seguimos regras de uma etiqueta qualquer, podemos ser considerados seres que sabem se comportar nos espaços públicos com adequação, mas o encontro verdadeiro, aquele no qual duas almas se reconhecem, seja na amizade, seja no amor, esse aí pede muito mais. Pede empenho e liberdade de artista. O artista é aquele que cria, que vê algo novo onde ninguém mais viu, ou naquilo que todo mundo via, mas de maneira automatizada, sem atribuir significado ou valor nascido de sua subjetividade

Nomes engraçados

Oi, gentes!! Olha eu na maior cara dura já furando no segundo dia de BEDA (risos). Tive um domingo massa, cheio de coisas desde o acordar até a hora do sono, então não deu mesmo pra vir. Vou tentar compensá-los de alguma forma até o fim do mês. Vamos ao texto de hoje. Você já reparou em como os nomes e sobrenomes podem ser engraçados? Sim, sempre tem alguém fazendo piadas com sobrenomes, sobretudo em tempos de shows de comédia standup e piadinhas enviadas pelas redes sociais. Talvez até você mesmo já tenha feito piadas com os nomes de amigos ou colegas da escola e do trabalho. Mesmo assim vou me arriscar a fazer uma gracinha com o tema. Alguns nomes já são a piada pronta. Pense nas pessoas com sobrenome Pinto, por exemplo. Você que tem o sobrenome Pinto, tem que ter muito cuidado na hora de escolher o sobrenome dos filhos, senão pode sair algo como João Pinto Brochado. Esse pode ficar traumatizado pra sempre com o nome e já ter dificuldades com ereção desde o dia no qual passa

BEDA 2015 - parte 2: a missão!

E aí, pessoas queridas!! Ó aqui eu de novo na maior cara de pau depois de mais uma promessa de escrever mais descumprida! Hahaha Ontem a namorada perguntou por que eu não escrevia mais. Eu dei algumas razões possíveis, mas a verdade é que nem eu sei o porquê. Escrever é algo que eu realmente gosto de fazer, mas alguma coisa faz com que eu não dedique mais tempo a essa atividade. Talvez a melhor explicação seja que escrever está quase sempre em último lugar na minha lista de prioridades – e talvez nem seja prioridade alguma. E porque escrever dá trabalho: é preciso pensar, escolher as palavras certas, tentar antecipar algumas possíveis reações do leitor e fazer com que as palavras externem o mais fielmente possível aquilo que projetamos para o texto. Além disso, a boa prática de escrita exige do escritor para com seu texto ler, revisar, reescrever, reler e reescrever de novo até que ele fique sem erros e sem ambiguidades não planejadas. Agora imagina fazer tudo isso depois de t

Sobre o crescimento da intolerância no Brasil atual

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Está rolando um vídeo na internet comparando a reação geral aos petistas ao que ocorria os judeus na Alemanha nazista. O argumento é de que, como a propaganda nazista culpava os judeus de todas as mazelas da Alemanha à época, faz-se hoje com o petismo no Brasil. A comparação talvez seja um pouco exagerada, mas não chega a ser absurda. É preciso ter pensamento crítico pra saber que a corrupção, infelizmente, não é propriedade de um único partido, e nem a honestidade. Não existe essa divisão artificial entre nós os bonzinhos e eles os maus que devem ser eliminados para que o bem vença. Quando colocamos as coisas dessa maneira a história nos ensina que costuma não terminar bem (mas quanto hoje se dá importância ao que a história ensina?). Ao ver o nível de intolerância que toma conta das redes sociais hoje, e que muitas vezes se reflete fora dela, eu me lembro de um trecho do artigo "Uma guerra civil não é uma guerra, é uma doença", escrito por Antoine de Saint-Exupéry sobre

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo"

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Eu vejo o amor assim: Se eu precisar lutar tanto Não tem de ser pra mim

Satisfações aos seguidores fiéis

Gente, como vocês puderam notar, meu BEDA foi pras cucuias, mas foi lindo enquanto durou. Thami, obrigado mais uma vez por me cutucar pra tentar participar. Não foi dessa vez que cumpri até o final rs. Muita atividade aqui no mundo de fora entre dar apoio a amigos em dificuldades, conhecer gente nova, confraternizar com amigos, estudar - viver, enfim. Acabou não sobrando tempo para pensar nos textos diários a que havia me proposto no início do mês.  De qualquer forma, foi lindo, como disse, e vi que não estou tão enferrujado assim para escrever. A ideia é postar ao menos 2 textos semanais em dias que ainda vou definir aqui e volto pra avisar. Mas quem me conhece sabe que tudo pode mudar a qualquer momento e que provavelmente terão semanas em que postarei 3 textos e outras nas quais não postarei nenhum.  Seja como for, o blog vive! Beijo nocês e até breve!

Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo...

 Se o mundo é mesmo  Parecido com o que vejo  Prefiro acreditar  No mundo do meu jeito Esse trecho de Eu era um lobisomem juvenil , da Leigião Urbana, foi durante muito tempo minha frase preferida. Como vocês podem ver no meu post anterior, o meu despertar para o mundo ao passar da infância para a adolescência foi um choque profundo nas crenças que tinha como verdadeiras e universais, os princípios e valores cristãos que minha família havia me ensinado desde a mais tenra idade. Acreditava profundamente no amor e no bem e, na minha inocência, acreditava que o bem era a regra e o mal era um desvio, a exceção. Como Rousseau, acreditava que os homens nasciam bons e eram corrompidos pela sociedade - pelo "mundo", usando o vocabulário cristão. Quando eu comecei a ver que não era bem assim que a banda tocava, eu me vi perdido e sem direção, sem saber como fazer para conciliar a minha crença com o que via na realidade.  Eu era naquela época uma pessoa muito mais empática

Saio de mim *

Saio de mim e começo a me observar: Olho para todos os detalhes E não sei o que pensar Olho para o passado e Ah! Sim! Lá estou eu O menino amável que a todos conquista Correndo sem camisa no meio da rua Que nada conhecia para além da sua vista Que não fazia esforços para agradar ninguém A quem ninguém queria mal Se aproximar, também, ninguém Mas para ele não tinha importância Na verdade ele nem percebia Cercados de seus bonecos Eram sua única companhia Além dos livros, lápis, borracha... O que não conhecia, imaginava E na imaginação Seus bonecos eram personagens De um jogo de futebol Ou de uma grande aventura Tudo era muito bom e muito bonito A música sempre encontrou vida nele Um dia ele viu os outros Jogando bola de verdade E ele quis jogar bola também Ele começou a ver os outros A observar seu comportamento Não queria mais ser o que era E começou a mudar, e mudar E começou a crescer, e crescer Mas não gostou muito da mudança E começou a querer ag

Minha terapia

Hoje eu tive um dia particularmente difícil, depois de precisar resolver alguns problemas pessoais e também de receber uma resposta negativa para algo que estava aguardando.  Então eu fui jogar futebol e, normalmente, só de correr, suar, chutar a bola, já é possível descarregar bastante a tensão. Com certeza o destino sabia que hoje eu precisava de um pouco mais e eu fiz não um, não dois, mas três golaços chutando forte no ângulo - além de mais um roubando a bola do goleiro. Como disse a uma amiga, esses 3 gols fizeram mais por mim hoje do que fariam 3 meses de terapia. Mulheres, favor não implicar com o futebol dos maridos. Se vocês soubessem o bem que isso faz, o estresse que tira... Aliás, o que equivale ao futebol dos amigos no mundo feminino?  Outra coisa que costuma me desestressar é cantar. Quando tudo está desabando eu pego meu violão, vou para um canto e fico ali cantando a plenos pulmões até as coisas amenizarem. E como faz bem, também! Se nada disso der certo ai

Nunca mudará - música própria

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Resolvi deixar uma das minhas composições para hoje. Parceria com Gabriel Naveca, coelga da época da faculdade de Ciências Contábeis na UFAM - curso que abandonei pela metade. Ouçam sem moderação e compartilhem!