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Trecho de um papo cabeça...

“(...) Tudo que eu fiz até hoje foi ter cuidado. Cuidado ao extremo. Não quero mais ter cuidado. Quero me arriscar, viver, encarar esse bicho estranho e desconhecido que é a vida. Quero chegar ao fim da vida e poder dizer: fiz o que pude! Se tiver dado certo, bem. Se não, o que terei perdido? Tudo o que eu quero agora é correr perigo. Perigo de estar realmente vivo. Então, eu terei cuidado, muito cuidado, de não passar pela vida sem ter vivido tudo o que desejo, sem ter tentado semear o meu sonho pelos campos, sem cair e levantar e descobrir aonde é que está errado e corrigir e seguir em frente com a cabeça erguida. Obrigado pela advertência, amigo. E pode deixar que eu vou tomar muito cuidado.”

Lacuna

Há um pedaço de mim que é qualquer coisa de triste e quase inquieto, que reclama qualquer coisa que ainda não vi, ouvi ou vivi, mas deve existir em algum lugar, esperando por minha chegada, ou que talvez não exista e precise da minha força criadora para existir, essa coisa que tanta falta me faz. Por esta lacuna impressa desde tempos imemoriais no âmago de minh'alma ponho-me a escrever de quando em quando, nas horas em que a normalidade rotineira do mundo me cansa, e eu, em angustia demasiada, quase desespero, sinto o coração expandir e transbordar os frágeis limites do peito, e desabar em prantos, palavras, acordes e versos. Escrever é minha redenção.

Vidamar

Diante do mar da vida, prostro-me e delicio-me com o som de suas ondas namorando a praia. A maré, que até pouco era baixa, subiu, subiu e quase me cobre nas ondas maiores. Imperceptível até antes de eu engolir um pouco da sua água salgada, perdido no meio de um turbilhão de águas que me arrastou até a praia. Mas agora, essa vida-mar que me jogava pra fora, passou a me puxar pelas pernas para dentro dela, igualmente imperceptível no início, de modo que quando percebi estava longe, no meio da vida, me afogando no mar, tanta vida me inundando os pulmões, tão salgada a vida, tão ávida de meu corpo, tão lenta minha alma desvanecendo e, no entanto, sinto-a plena, absoluta, como se fosse preciso naufragar, tocar as profundezas para senti-la assim. E de tanto sentir, na vida, enfim, me dissolvo, torno-me mar, e vou pelos séculos, brincar com as praias e pedras de maré e ressaca.