Vidas possíveis


Novamente o velho dilema entre fazer o que quero e o que é preciso. Minha mente é naturalmente dispersa e meus interesses, ditados pela minha grande curiosidade a respeito de tudo, mudam com rapidez comparável a possibilidade de clicar em links sugeridos quando se navega pela internet. Mas não é só na internet que meus interesses me fazem ficar horas entre filmes, notícias, humor, esportes, etc. Sempre fui assim, mesmo antes de conhecer esse fabuloso labirinto virtual. Eu sempre fiquei dividido entre várias opções por achar que todas tinham um grau aceitável de validade, mas sem saber a qual dar prioridade.

Passando da pura divagação às experiências ou possibilidades reais, eu sempre me mantive meio que num limbo do qual minha vida poderia me levar para qualquer lugar. Eu sentia, por exemplo, que minha vida poderia ser ligada de alguma forma ao futebol, meu esporte preferido e minha paixão desde que me lembro. Pensava que se treinasse bastante, havia boas possibilidades de me tornar um bom jogador, quem sabe jogar no Flamengo, meu clube de coração.

Outras vezes via a real possibilidade de me tornar padre. Tive uma infância e juventude muito ligada à igreja católica e por vezes me sentia chamado a viver essa vocação – às vezes por religiosos que viam potencial em mim para ela. De alguma forma que não sei explicar, me via como alguém que nasceu para ter grandes responsabilidades e realizar grandes feitos. Ser padre ou religioso, por si, é algo de grande responsabilidade: imagina o que é carregar o peso de todas as esperanças, medos, sonhos, intrigas, fé, disputas, carinho e amor de toda uma paróquia, no caso dos párocos? Já é grande coisa, mas isso não seria suficiente para minhas pretensões de grandeza. Se fosse padre, eu queria ser como Pe. Zezinho ou Pe. Fábio de Melo, um padre cantor com alcance maior, capaz de tocar os corações dos católicos no país inteiro.

Aproveitando o ensejo, outra possibilidade que considerava real era a de me tornar cantor e músico. A exemplo de meu pensamento em relação ao futebol, pensava que se treinasse bastante poderia me tornar um grande músico, como aqueles que admiro. Como não me considero muito carismático cantando, pensava que precisaria ser também um excepcional compositor, para gravar minhas próprias músicas. E para tanto, haja escrever e compor melodias, horas e mais horas de trabalho para lapidar as versões até chegar a um resultado digno de ser gravado.

E como estamos em um blog, chegamos assim ao próximo item da minha lista de profissões possíveis: cheguei a pensar seriamente na possibilidade de me tornar escritor, especialmente depois que passei a escrever nesse blog e ganhei alguns seguidores fieis, e mais ainda depois que fiquei em segundo lugar no 1º concurso de contos da UEA, em 2008. O talento, pensava, eu já tinha, só faltava o treino e a dedicação, o trabalho sobre a palavra para criar um estilo próprio que fosse capaz de tocar as pessoas.

Jogador de futebol, padre, cantor, escritor... que mais eu quis ser? Com certeza muitas outras coisas, mas esses foram o que quis com mais força, digamos assim. No fim, acabei mesmo como servidor público que joga futebol com os amigos, mal vai à igreja, canta às vezes por diversão e quase não escreve – basta dar uma olhada na frequência de posts nesse blog para constatar a última afirmação.

Dia desses estava assistindo uma palestra do Cortella na qual ele cita o segunte trecho de Alice no país das maravilhas: “Pra quem não sabe aonde ir, qualquer lugar serve.”


Aos 30 anos, eu não sei ainda aonde quero ir.


*Texto escrito em 2014, na crise dos 30 - nunca publicado.

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