Sobre uma menina, alemães e judeus

Durante as férias andei lendo algumas coisas e resolvi falar um pouquinho aqui sobre dois que a maioria já deve ter lido, mas eu resolvi ler só agora: A menina que roubava livros e Quando Nietzsche chorou. Coincidentemente os dois livros tem alemães e judeus, embora só o primeiro tenha uma menina, daí o título do post (risos).

Vamos aos comentários:

A menina que roubava livros

Confesso que na primeira vez que tentei ler não passei da 20ª página. Achei muito estranha e fragmentada aquela narração da dona Morte. Passaram-se anos e depois de alguns amigos comentarem bastante o livro resolvi ler novamente e com calma, e então tudo fez sentido; cheguei a sentir saudades do livro e ficar pensando nos personagens quando não estava lendo.

Há um equilíbrio ali entre o ódio, a crueldade, a miséria, o irracional e a beleza, o amor, a solidariedade, a amizade. Aliás, é a poesia que vence durante todo o livro. Na música do acordeonista, nos livros do lutador judeu, nos presentes de Liesel, na amizade dela com Rudy. Os personagens são miseráveis vestidos de farrapos que sentem fome e sofrem opressão do regime, mas o que a gente sente não é pena deles, é outra coisa. Eles vivem apesar disso e amam, e se divertem e a vida parece ser boa.
Ainda bem que a Dona Morte resolveu nos contar essa história


Quando Nietzsche Chorou

De modo geral eu gostei batsante do livro mas me decepcionei com o final.
A trama armada pra aproximar Breuer e Nietzsche é engenhosa, mas verossímil.
Os diálogos vão se tornando interessantes e instigantes num crescente que só é quebrado com o último, o que deveria ser o cume mas acaba sendo uma solução fácil (a hipnose) que parece holywoodiana, como no filme Click.

Unir a psicanálise - ou a busca do autoconhecimento - à filosofia de Nietzsche é uma tentativa amibiciosa e não posso opinar quanto a isso, posto que não conheço tanto de ambos. No entanto falando de temas universais como assumir as rédeas da própria vida e a busca da liberdade apesar das imposições sociais, o livro oferece uma boa reflexão até, volto a frisar, o último diálogo.

Fiquei mesmo decepcionado com aquela solução do autor de usar a hipnose para o Breuer experimentar o que ele pensava ser a sua "liberdade". Assim ele não precisou assumir as consequências da sua escolha e o livro perdeu a intensidade dos diálogos anteriores. Depois disso o autor quer fazer a gente acreditar que Breuer "voltou" pra vida de antes e assumiu as rédeas da própria vida apenas porque agora escolheu conscientemente o que antes apenas havia aceito como imposição da sociedade e do pai.

Fica a pergunta: escolher conscientemente aceitar as imposições sociais faz alguém ser livre? O personagem fica num posição bastante cômoda e eu fiquei com a impressão de os diálogos anteriores com Nietzsche não serviram muito pra Breuer. Foi como abrir os olhos, ou sair da caverna - para usar a metáfora platônica - e resolver voltar a ver apenas sombras.

Comentários

  1. A menina que roubava livros, agora eu vou ler!! :D

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  2. Esses dois livros estão na listinha dos que tenho que ler, rs. Principalmente "A menina que roubava livros", agora então, estou com mais vontade.

    Espero ler logo logo, rs.

    Uma terça cheia de luz pra você!

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