É tão fácil de amar...

É tão fácil te amar que eu me recuso
mesmo sem motivo
óbvio, infame ou escuso.

Se quero amar o belo
de beleza te compuseram:
tua tez clara e límpida,
teus olhos castanho-claro
tua boca, linda boca
linda face que não me canso de contemplar
a ponto de te provocar a tua timidez
quando me dizes, assim, envergonhada:
- Que foi?
Foi que não posso passar a vida
sem que ao acordar eu possa
pousar-te nas maçãs os lábios
e te dizer “bom dia”,
ou antes do sono, “boa noite”;
boa vida é a minha por estares aqui
e eu poder contemplar-te a cândida face,
dia e noite,
e saber que ela estará ainda amanhã
e depois e sempre,
até que sabe-se lá qual infortúnio nos separe
- a morte, quero crer.
Canto assim toda tua beleza pela face,
que teu corpo e tuas curvas,
guardo-me de cantar em público;
basta que saibam que amo tua beleza.

Caso cismasse de não amar-te a beleza,
como não amar tua fragilidade tão feminina,
teu jeito de abandonar-se assim nos meus braços,
depois de ter enfrentado o mundo lá de fora
com seriedade e força,
em prantos,
com o mesmo abandono de uma criança aos pais?

Recusasse a beleza e a fragilidade.
E descubro em ti outra faceta qualquer;
tua pressa de viver,
que te faz querer o melhor sempre e agora,
em contraste com meu desejo de comodidade,
me tira do falso conforto,
da comodidade modorrenta
onde passam-se semanas,
anos se deixar,
sem que nada aconteça,
nada de realmente importante,
numa eterna preparação de um futuro que nunca chega.
Passo, então, a te amar nessa ligação com o presente,
com a vida que se passa agora,
para longe do tédio,
longe de deixar a vida passar assim,
sem a gente tirar dela o que é nosso:
amizades, paisagens, sabores.
Tudo melhor ainda
porque visto em dois olhares
que se completam,
no caminho percorrido
por dois pares de pernas,
as mãos dadas,
e sentido por dois corações
que são um.

É tão fácil te amar que eu recuso,
mas só por um breve momento,
pelo espaço de um poema,
e da recusa faço canto,
faço toda essa cena,
para dizer apenas:


- Te amo!

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