Por que escrevo

 Escrevo pela necessidade de me expressar, por vezes para tentar dar sentido ao caos da nossa experiência; em outras, para desengessar o olhar sobre a vida, desorganizando verdades assumidas para lembrar que o caos, às vezes, é só isso mesmo e não precisa fazer sempre sentido: há ocasiões nas quais só se pode sentir.

Também me interessa buscar o significado último das palavras para traduzir fielmente os sentimentos e as experiências, o que, sei bem, é utópico. Nessa busca, esbarro sempre na impossibilidade das palavras de explicar tudo; há sempre o indizível sobre o qual tateio tentando construir com as palavras o sentido que busco, para provocar no outro sentimentos próximos do que experimento.

Mas minha busca ainda é incipiente, sou mero aprendiz. Falta-me a coragem maior de me entregar radicalmente a essa experiência de perscrutar, como Clarice Lispector, o que existe entre o número um e o número dois, entre duas notas musicais, onde “existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.”


Não ambiciono a tanto - pelo menos não ainda. Dizer o dizível, o comunicável, por hora, já estaria de bom tamanho. Gostaria de ao menos, como Exupéry, chamar a atenção das pessoas para o que é essencial, que é invisível aos olhos, pois só se vê bem com o coração. Acordar as pessoas para a importância do valor que nasce do afeto e da dedicação (“foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez dela tão importante”), nesses tempos em que tudo se tornou mercadoria, já seria para mim um bom motivo para escrever.


Falar de amor e da vontade de ver um mundo melhor também me interessa, mas sem ser piegas. Não fecho os olhos para a dureza da realidade, mas acredito que por ela ser assim mesmo é que é preciso falar do amor e do mundo possíveis de serem vividos, ainda que estejam distantes.


Escrever é, enfim, minha forma de construir uma ponte até você, leitor, e esperar que você ande por ela até nos encontrarmos em algum ponto, pela identificação e cumplicidade no que temos de mais humano. 


Tá, talvez eu seja um pouco ambicioso sim.


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