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Gabo, piolhos e cuecas furadas

Quando estava iniciando meu blog, lá no UOL ainda, reli a primeira vez Memórias de minhas putas tristes e tive a ideia de um post. Republico agora, para fazer as vezes de despedida. Vá com Deus, Gabo! Segunda-feira, 17 de Outubro de 2005 Pessoas, Estou lendo “Memórias de Minhas Putas Tristes”, de Gabriel Garcia Márquez. Quer dizer, estou re-lendo, pois da primeira leitura gostei tanto que cheguei com demasiada pressa ao final da história  deixando de recolher os tesouros escondidos nas entrelinhas, nas orações que passam muitas vezes despercebidas caso não sejamos leitores atentos. E foi assim que logo na página 12 encontrei o primeiro, um excelente tema para uma boa reflexão, motivo pelo qual senti a obrigação de fazer uma pausa na leitura. Ao descrever seu personagem principal, Garcia Márquez conta uma historinha que ouviu quando criança, daquelas que os adultos contam com a intenção de ensinar algo às crianças e que servem mais é para assombrar-lhes a mente: “se um

Ressaca

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Era a alma dela escorrendo em sal por entre os dedos, como se o mar a sua frente quisesse nascer dos seus olhos nesse instante de dor. Sim, sua alma era também um mar de sentimentos que vinha em ondas, ora mansas, ora agitadas, outras vezes, como agora, se fazia ressaca, e seus frágeis diques se mostravam insuficientes para contê-las: então era esse transbordar em lágrimas e soluços, mar invadindo a orla, sentimento erodindo as suas bases e empurrando tudo ainda mais para dentro da cidadela... Mas depois de um tempo o mar sempre volta a se acalmar, a maré baixa, deixando para trás uma praia bela de areias brancas e a esperança de que tudo irá se manter assim, leve e límpido como um paraíso.

Os sinos

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É madrugada e os sinos tocam nos meus ouvidos . Assim, sublinhado, porque é só neles mesmo que os sinos tocam, pois não existem sinos nas redondezas. É só que resolvi escrever agora e de repente só ouço o som de sinos, sem a menor razão aparente. Seriam sinos celestiais? Sinos de morte? Sinos de vida? Sinos, em geral, são avisos de algo que vem , algo que começa, de que chegou o grande momento. Mas de que? de acordar? de viver? de encontrar Deus? Sinos bimbalham em meio ao silêncio, perturbando o sono que ainda não chegou. Alguém mais os ouve? Vizinhos, estais também em vigília, atentos ao sinal deste momento? E o natal já passou. Nem pode ser o sino-pequenino-sino-de-Belém. Já nasceu o Deus-menino, falta o nosso bem. Bimbalham, os sinos, bimbalham. E eu aqui, atento. A tempo? Pode já ter passado o sabe-se-lá-o-que os sinos vieram me mostrar. Ouço, agora, apenas o silêncio, traspassado pelos ruídos da noite. Geladeira, relógio, uivo de cães. Coração. Passou, definitivamente, o

Ciência, Religião e suas respostas insatisfatórias para nossos dias

No meu antigo blog eu já havia postado sobre como é difícil se orientar no mundo de hoje, onde a religião já não consegue dar respostas satisfatórias aos nossos anseios,  e nem a ciência, apesar de tantos avanços no conhecimento de nós mesmos e do universo, a substituiu na criação de significados, como acreditavam muitas das melhores mentes pensantes do mundo no decorrer dos séculos XIX e XX. A verdade é que a ciência, sem prejuízo das muitas respostas já encontradas, suscitou um sem número de novas perguntas que não tem, nem terá tão cedo, a capacidade de responder por completo. Esse artigo da Superinteressante, do qual transcrevo parte da introdução logo abaixo, me fez voltar a pensar no tema. Confiram; volto em seguida. "Em 2003, um grupo de cientistas italianos (de onde mais?) constatou que comer pizza poderia prevenir alguns tipos de câncer do sistema digestivo. Para chegar a essa conclusão, examinaram 3 315 pessoas com a doença e as contrastaram com outros 5 mil in

Lar

Caminhávamos em distraído êxtase de paixão. Sem perceber, atravessávamos os séculos contemplando nossos olhares, anos-luz, distâncias intangíveis, buracos negros e o encontro do meu olhar com o teu era o combustível, o caminho e a própria viagem. Lembro-me perfeitamente, embora às vezes duvide das minhas próprias lembranças, do dia em que nosso amor era tão forte, tão apaixonado e as nossas loucuras chegavam a grandes extremos. Enquanto caminhávamos a esmo – e era como se tudo fosse um grande jardim paradisíaco e nós os seus guardiões e principais habitantes – mergulhamos em um vulcão, você me puxando, eu fui sem hesitar, alcançamos o centro da Terra, incólumes por não saber do perigo de ser queimados, ou pela temperatura da nossa paixão estar acima da que fazia por lá. Éramos loucos, apaixonados loucos, redundância, eu sei, mas é para dar a noção mais próxima do que era o nosso amor. Sim, era. Foi. Já não é. Uma pena. Grande pena. *** Agora há pouco li uma lista dos luga

Quisera desfiar o tecido da vida

Quisera desfiar o tecido da vida e de cada pedaço de fio pulsante tirar o sumo, apenas - poesia latente E embriagar-me de tal bebida Como um bêbado bacante Para sair logo em seguida Mais feliz que toda gente Livre e leve na avenida

BEDA #7 - Perdemos tempo?

Lá pelos idos de 2002, quando eu era ainda um calouro na faculdade pouco habituado ao novo ritmo de estudos, ao fim de longas horas de estudo na biblioteca, escrevi um poema, uma reflexão sobre o tempo, que foi durante anos o meu predileto. Infelizmente eu acabei perdendo-o antes que eu entrasse na era digital e pudesse gravá-lo em algum arquivo de computador. Não me conformo com a perda, mas não há o que fazer a respeito. Enfim, só estou falando dele agora porque há um trecho simples do qual lembro perfeitamente e que sempre me dá um norte nos momentos de reflexão. Presenteio-vos com ele, para que o utilizem nas suas reflexões, se assim desejarem. "(...) Perdemos muito tempo... Mas nós perdemos o tempo? - O que perdemos é vida no tempo!  (...)"

BEDA #6 - A coragem de ser

Tempos atrás li uma crônica deliciosa da Clarice Lispector intitulada “Se eu fosse eu”. Transcrevo abaixo um trecho e volto em seguida: “Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão impressionada com a frase 'se eu fosse eu', que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir. E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser movida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida.” (Quem quiser ler na íntegra, pode aqui ) É uma provocação e tanto essa, não? De vez em quando me pego pensando, digo, sentindo como a Clarice. Se eu fosse eu... provavelmente se

BEDA #5 - Da minha preguiça de gente que não pensa

Eu geralmente sou um sonhador, cheio de esperanças de que as coisas vão ser melhores, mas, ultimamente, estou meio cansado desse mundo. Nem tenho mais vontade de entrar no facebook de tanta asneira que tenho visto as pessoas postando lá. E não estou falando de burrice no sentido usual que as pessoas costumam condenar, como tropeços na ortografia, por exemplo. Isso é no máximo um pouco desconfortável, mas passa sem maiores problemas. A pior burrice que se vê por lá é das pessoas que pensam ser inteligentes ou superiores de alguma forma, tentando argumentar sobre assuntos que não passaram pelo crivo da reflexão pessoal sequer por cinco minutos. Gente que decorou algumas frases do senso comum, um trecho da pregação do pastor ou padre, ou até mesmo uma citação que leu no próprio facebook e repete em todas as suas discussões como se fosse o argumento definitivo, aquele que não dá margem a nenhuma contra-argumentação. Outro dia, por exemplo, compartilhei um texto do Dráuzio Varela sob

Beda #4 - Meu sonho de canção

Meu sonho é compor uma canção. Poderia até compor outras canções depois, ou mesmo antes, mas meu sonho é com aquela única que teria o poder especial de acordar nas pessoas o que de melhor possuem, aquela essência que faz delas seres humanos plenos, cientes do que querem no mundo e do que precisam fazer para serem felizes. Ao ouvi-la, as pessoas se dariam conta de que o amor é a resposta, o caminho, a ponte entre o eu e o outro, aquilo que pode nos trazer a paz e a felicidade. Uma canção poderosa, que soaria longe e adentraria mesmo aqueles corações mais endurecidos e embrutecidos pelos males da vida ou por longos anos de exercício do egoísmo profissional, que desarmasse o preconceito mais arraigado e o ódio mais “justificável”. Uma canção que tirasse as pessoas dos escritórios, das casas, das prisões, para cantar em uníssono, como um hino de paz e de esperança, e que depois de ser assim cantada em coro, todos se reconhecessem como irmãos de uma grande família. Sei que es